sexta-feira, 20 de maio de 2011

Paixão



Moça pequena, franzina, tímida e com problemas respiratórios quando criança. Essa sou eu, Larissa de Menezes Baracho. Na verdade nunca imaginei que os problemas de rinite da infância ajudariam a me tornar uma verdadeira nadadora. Tudo começou aos nove anos de idade, após uma visita nada agradável ao meu médico. Acho que não gostava dele por na verdade odiar hospitais, o cheiro e o branco que rodeavam os corredores me deixavam com náuseas. Depois de uma longa conversa com minha mãe, ele deu a ideia da prática de um esporte físico, e a natação era a melhor opção para meu problema naquele momento.

Na hora pensei que nadar não seria a melhor alternativa, achava o esporte nada atrativo. Eu, Larissa, ficar contando tijolos no fundo da piscina? Deus me livre! Mas como com mãe não se brinca, aceitei o desafio. Minha mãe sempre foi muito cuidadosa com minha saúde, e se a natação ajudaria no meu problema, eu seria obrigada a fazer. O primeiro dia de aula foi até agradável. A cada braçada eu descobria um talento ainda escondido, e pensei que se houvesse dedicação, poderia ser motivo de grandes alegrias no futuro.
O tempo foi passando e minha vida se resumia a uma piscina. Aquilo me fascinava cada vez mais. Quem diria que eu seria grata a um médico esquisitão pelo resto da minha adolescência. Três anos se passaram e agora eu era uma boa nadadora. Aos 11 anos era atleta do Clube Olímpico de Natação da Bahia, onde competi por vários lugares do Brasil e Estado. Conheci várias pessoas, de vários estilos, crenças, aparências, amigas e divertidas. Tiveram também aquelas que na hora de nadar quis afogar dentro da piscina, brincadeirinha, eu não era tão má assim, apenas o espírito competitivo gritava dentro de mim na hora em que o árbitro dava o sinal de partida e eu me jogava de corpo e alma em um mundo que terminaria alguns segundos depois, mas essa era a melhor sensação.
Comecei a nadar em travessias, aquele mar e liberdade eram incríveis. Lembro como se fosse hoje da minha primeira travessia. O tempo estimado para finalizar a competição era de uma hora, e acabei chegando duas horas depois. Meu técnico havia dito aos seus atletas que depois que avistassemos um hotel na beira da praia, estariamos no final. Uma hora e meia se passou e quando finalmente avistei o hotel na beira da praia não me contive de tanta alegria, o cansaço era grande. Segui frente e quando respirei novamente o hotel mantinha-se no mesmo lugar, foi naquele exato momento que bateu o desespero, mas como sou brasileira, não desisti, e depois de alguns minutos o hotel resolveu sair do lugar, aliás, eu resolvi sair do lugar. Quando terminei a travessia estava minha mãe desesperada pensando que algo tinha me acontecido. Coitada, desde criança não gostava de praias com medo de se afogar, e agora tinha deixado sua filha única atravessar de uma ilha à outra.
Os anos se passaram e me tornei uma das três melhores nadadoras de águas abertas do estado da Bahia na minha categoria. Aos 14 anos me mudei para o estado de Sergipe onde continuei praticando o esporte. A saudade da minha querida Bahia era grande, mas Sergipe também era uma terra maravilhosa e as pessoas haviam me acolhido muito bem. Minha jornada nas piscinas continuou, só que não por muito tempo.
Hoje, aos 19 anos, fico pensando como teria sido minha vida sem a natação. Não nado mais, problemas no joelho e estudo fizeram com que eu abdicasse do esporte, tristeza não sinto, apenas saudades de uma época que me trouxe inúmeras alegrias. Trago comigo a certeza que fiz o meu melhor enquanto pude. Restaram-me apenas as lembranças daqueles nove anos maravilhosos, troféus, medalhas e fotos que mostrarei aos meus filhos e netinhos no futuro.



Larissa Baracho


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